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Mais força para a raça

Por Mariana Bananal

Durante a 81ª edição da ExpoZebu, em Uberaba, Minas Gerais, os criadores de Indubrasil estiveram reunidos na sede da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ) para definir o futuro da raça. Foi o I Simpósio Indubrasil Carne e Leite, realizado pela Associação Brasileira dos Criadores de Indubrasil (ABCI). O objetivo foi debater com todos os criadores presentes a realidade da raça e propor um direcionamento para a seleção e seu melhoramento genético.

Na mesa redonda, todos os sócios e convidados puderam expor seu pensamento de forma democrática, sendo que os pontos levantados basearam a elaboração de um documento final sobre as expectativas dos criadores. Para a associação, a iniciativa é de grande valor histórico e técnico, pois foi a primeira vez que os selecionadores participaram de um evento para alinhar suas ações. As perguntas fundamentais foram: o que é o Indubrasil, como ele deve ser, como fazer para se chegar ao ideal e qual caminho seguir no trabalho de seleção.

Os criadores chegaram à conclusão de que o Indubrasil é um legítimo zebu de dupla aptidão, mas os padrões raciais deverão ser revisados. Embora o trabalho de seleção já esteja bem definido, com um longo trabalho de melhoramento genético considerado eficiente, a associação recomenda observar detalhes herdados das raças originárias que não interfiram nas características econômicas funcionais. “O Indubrasil está pronto e apto para continuar desenvolvendo uma função importante na pecuária tropical, como raça pura, mas especialmente nos cruzamentos para produção de carne e de leite”, destaca o documento. Outro foco na seleção é a busca por um animal equilibrado, rústico, produzindo essencialmente a pasto, embora responda bem ao sistema de produção em confinamento. Para alcançar esse ponto, pretende-se alinhar as características fenotípicas à utilização do Programa de Melhoramento Genético de Zebuínos (PMGZ), criado pela ABCZ.
Já com foco na dupla aptidão, o documento evidencia que não se deve buscar uma produção leiteira que prejudique a rusticidade do animal ou mesmo sua capacidade de produzir carne, sendo necessário o animal apresentar carcaça adequada para o corte. Com relação ao controle e torneios leiteiros, o conselho é a adoção de manejo e regime alimentar próximos à realidade das fazendas produtoras de leite, tendo em vista uma produção economicamente viável e leite saudável. O mesmo vale para os cruzamentos com raças leiteiras, em especial, a Holandesa.

Na produção de carne, a proposta é procurar animais com excelência em produção, de grande porte, ótimos índices de ganho de peso, docilidade, rusticidade, longevidade, precocidade de acabamento, rendimento de carcaça, precocidade sexual, idade ao primeiro parto, habilidade materna e conversão alimentar. “A correta utilização do PMGZ atende perfeitamente às necessidades dos selecionadores, é um valioso auxílio no processo de seleção”, alerta o documento.

“O simpósio teve como finalidade fazer um alinhamento de posições e discutir a raça com os criadores. Certamente, de agora em diante, o Indubrasil crescerá com maior uniformidade e força, porque um importante passo foi dado para que a seleção seja feita com um critério bem definido. Ressaltamos que a raça já tem um excelente trabalho, porém este diálogo é fundamental para esclarecer e fortalecer a seleção. Não é uma mudança, como se de agora em diante fosse ser diferente e novo. É apenas um aprofundamento, como também uma intensificação para seleção com dupla aptidão, de acordo com o documento final, divulgado pela ABCI”, explica o diretor Internacional da associação, Djenal Tavares Queiroz. Selecionador de Indubrasil há mais de 50 anos e juiz da ABCZ há 40, Clarindo Irineu de Miranda vê no simpósio mais um incentivo para a retomada da raça que já foi uma das mais criadas no país. “A raça vai voltar a ocupar o espaço que ela perdeu. Esse ano foram mais de 40 animais na ExpoZebu, e animais que vieram de longe. Também teve muita gente de fora que comprou animal aqui”, observa Clarindo.
No início da seleção zebuína no país, o Indubrasil ganhou destaque devido às características que mais tarde seriam consideradas “defeitos”. As orelhas grandes, a barbela e até mesmo as tetas avantajadas provavam às pessoas da época que aquele era um autêntico Zebu. “Os primeiros animais que chegaram ao Brasil eram europeus. Era um gado muito sujeito a doenças e não tinha resistência. Quando chegaram os primeiros zebus e esses animais cruzaram, observou-se que os de orelha maior e mais umbigo (que é o caso do zebu), eram melhores para produzir. Eles cruzavam sem saber. Nasciam animais bons, animais ruins. E eles observaram que quando cruzava as vacas com os animais com mais orelha, mais umbigo, só dava bezerro bom. Na época, quanto mais umbigudo, orelhudo e barbeludo, melhor”, conta Clarindo.

Com o passar do tempo, notou-se que essas características davam problema no pasto e o fenótipo do Indubrasil passou a ser visto com preconceito. Atualmente, as características consideradas ruins já estão sendo descartadas, através do melhoramento genético. “Hoje, isso já está mudando. O bezerro já levanta e vai mamar, as tetas estão corrigidas”, ressalta o selecionador.

Após o simpósio, que divulga os objetivos de seleção, a expectativa é melhorar ainda mais a raça. Uma nova reunião deve acontecer em 2016, ainda com data e local a serem definidos. “Temos certeza de que a raça será fortalecida com iniciativas desta natureza. Já recebemos contatos de muitos criadores de Indubrasil do exterior desejando participar dos próximos, o que prova também a importância da raça para a pecuária mundial. Na verdade, não são novos padrões, mas estamos debatendo a raça e divulgando para os interessados o que é o Indubrasil e como está a seleção, qual sua função na pecuária”, aponta Djenal.

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