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Indubrasil gaúcho

Por Natália Escobar | Revista Pecuária Brasil nº 09

O Rio Grande do Sul é detentor do sexto maior rebanho de bovinos do Brasil, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE). A agropecuária é a atividade que ocupa maior área produtiva no estado, e, em 2014, o Valor Bruto da Produção pecuária totalizou R$ 15,8 bilhões. As raças mais exploradas são os europeus Angus e Braford, presentes nos maiores rebanhos. Gradualmente, o Indubrasil entra nesse cenário para imprimir rusticidade e maior produtividade na pecuária do estado.
A Associação dos Criadores Gaúchos de Zebu (ACGZ) é uma das promotoras da raça por lá. A entidade nasceu em 1989, quando um grupo de criadores de zebuínos do Rio Grande do Sul decidiu se unir para o desenvolvimento de ações conjuntas, com o objetivo de promover as qualidades que o zebu poderia oferecer na pecuária da região. Hoje a entidade congrega criadores de Nelore, Brahman, Tabapuã, Guzerá, Gir, Gir Leiteiro e Indubrasil.
Nathã Carvalho, Gerente Executivo da associação, conta que o Indubrasil está presente há muito tempo no estado, mas ganhou um impulso nos últimos seis anos, quando alguns criadores passaram a registrar mais animais. “Em 2011, o Indubrasil voltou a participar da Expointer, passou a ser mais visto, e suas qualidades atraíram novos criadores. Hoje, o número de associados cresce expressivamente, e temos mantido uma média de 30 animais daqui do estado julgados na Expointer anualmente”, afirma.
Não existem registros oficiais de quando o primeiro exemplar Indubrasil chegou ao Rio Grande do Sul. O que é sabido é o boi de orelhas longas vindo do Triângulo Mineiro voltou a ganhar notoriedade gaúcha quando o criador Elair Bachi, de Paim Filho, noroeste do estado, se encantou pela raça. Ele foi o primeiro criador gaúcho a registrar o Indubrasil na Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ).
O Sítio Tio Fiorindo, propriedade
onde Elair cria o Indubrasil, no começo abrigava apenas seis animais. Hoje já são quase cem, e, entre eles, grandes campeões das pistas da Expointer. A raça passou vinte anos fora da feira, mas retornou em 2011, pelas mãos de Elair. Ele expôs seis animais para mostrar que o Indubrasil gaúcho tem tudo para ganhar espaço.
Em 2015, fortes chuvas antecederam o período da feira mais importante para os gaúchos. Elair conta
que foi mais difícil preparar o gado, manter o peso trabalhando em cima do barro. “Em compensação, isso nos mostra que o que estamos criando aqui talvez seja o Indubrasil mais rústico do país. Ele aguenta chuva, frio, anda no barro, e o calor de 40 graus que enfrentamos em janeiro. Além disso, o relevo aqui é muito acidentado. Os bezerros nascem e já tem que fazer esforço para subir e descer os morros da propriedade. É uma seleção natural para rusticidade”, conta o selecionador.
Desde 2008, a Fazenda Lobo Guará, em Guaporé, na serra gaúcha, é o recanto da seleção de Gir Leiteiro de Jairo André Gorczevski. Há três anos, em 2012, o criador agregou o Indubrasil ao seu plantel. Já com investimentos garantidos na pecuária leiteira com o Gir, Jairo buscava uma raça que desse carne. A convite do amigo Elair, conheceu o Indubrasil e se interessou pelas suas possibilidades. Adquiriram, em parceria, o touro Tupi da Natureza, na ExpoZebu de 2012, e logo em seguida, na Expointer do mesmo ano, ele foi Grande Campeão. Esse ano, Lúdica da Natureza, propriedade do Fazenda Lobo Guará, foi a Grande Campeã da Expointer.
Ele conta que, nos últimos três anos de investimento, tem se surpreendido com as qualidades da raça. “A nossa região chega a temperaturas negativas todo ano. Os animais já pegaram neve e calor extremo, passando pelos dois tranquilamente. É surpreendente a rusticidade da raça para se adaptar e produzir bem em qualquer clima”, afirma Jairo.
Carne gaúcha
Embora grande parte dos criadores acredite na dupla aptidão do Indubrasil, a aposta mais forte é na carne. Edon Rocha Braga, Responsá
vel Técnico da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ) no Rio Grande do Sul, registra os animais zebuínos em solo gaúcho. Ele que viaja o estado, e conhece as tendências do mercado regional, garante: o caminho para o Indubrasil é o cruzamento industrial com as raças europeias.
“O Indubrasil é um zebuíno formado aqui no Brasil e difundido em vários países do mundo, principalmente no México e na Costa Rica. É uma raça com grande potencial para crescer ainda mais, devido a sua rusticidade e grande capacidade de ganho de peso, características tão pro
curadas em uma pecuária moderna e cada vez mais competitiva. Acredito que o cruzamento com gado europeu para corte é o futuro da raça, e sua maior vocação”, afirma Edon.
Vitor Hugo Fin é um dos indubrasilistas que apostam na produção de carne da raça. Proprietário da Cabana Zebusul, em Gravataí, começou a criação em 1997, e a registrar nos últimos anos. Com uma seleção voltada para corrigir o teto e prepúcio dos animais, Vitor acredita que o Indubrasil precisa ser selecionado para sua função essencial, a de produtora de carne.
“É um gado muito bom para cruzamentos. Temos clientes que estão cruzando o Indubrasil com o Angus e obtido resultados muito bons, com mais peso e qualidade, conseguindo escapar do carrapato e ganhando muito peso. Além disso, é um gado que surpreende pela beleza e mansidão”, conta Vitor.
As perspectivas futuras para raça são de ainda mais expansão pelo estado. Vale ainda destacar que o Rio Grande do Sul é o maior estado em venda de sêmen da raça, conforme os dados da Associação Brasileira de Inseminação Artificial (ASBIA). “A raça Indubrasil é mais um exemplo do que o Zebu pode agregar em produtividade. Uma raça extremamente dócil, precoce e rústica. É o Indubrasil, zebuíno de essência indiana formado no Brasil, avançando agora pelos campos do Rio Grande”, finaliza Nathã.

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